sexta-feira, 10 de abril de 2009

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA III

DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM
50 Mediante a razão natural, o homem pode conhecer a Deus com certeza a partir de
suas obras. as existe outra ordem de conhecimento que O homem de modo algum pode atingir
por suas próprias forças, a da Revelação divina. Por uma decisão totalmente livre, Deus se revela
e se doa ao homem. Fá-lo revelando seu mistério, seu projeto benevolente, que concebeu
desde toda a eternidade em Cristo em prol de todos os homens. Revela plenamente seu projeto
enviando seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo, e o Espírito Santo
ARTIGO 1 - A REVELAÇÃO DE DEUS
I. DEUS REVELA SEU "PROJETO BENEVOLENTE"
51 "Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tomar
conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual os homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito
carne, no Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se tomam participantes da natureza divina[fca4] ".
52 Deus, que "habita uma luz inacessível" (1 Tm 6,16), quer comunicar sua própria vida
divina aos homens, criados livremente por ele, para fazer deles, no seu Filho único, filhos adotivos.
Ao revelar-se, Deus quer tornar os homens capazes de responder-lhe, de conhecê-lo e de amá-lo
bem além do que seriam capazes por si mesmos.
53 O projeto divino da Revelação realiza-se ao mesmo tempo "por ações e por palavras,
intimamente ligadas entre si e que se iluminam mutuamente". Este projeto comporta uma
"pedagogia divina" peculiar: Deus comunica-se gradualmente com o homem, prepara-o por
etapas a acolher a Revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e
na missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo.
São Irineu de Lião fala repetidas vezes desta pedagogia divina sob a imagem da
familiaridade mútua entre Deus e o homem: "O Verbo de Deus habitou no homem e fez-se Filho
do homem para acostumar o homem a apreender a Deus e acostumar Deus a habitar no
homem, segundo o beneplácito do Pai"
II. AS ETAPAS DA REVELAÇÃO
DESDE A ORIGEM, DEUS SE DÁ A CONHECER
54 "Criando pelo Verbo o universo e conservando-o, Deus proporciona aos homens, nas
coisas criadas, um permanente testemunho de si e, além disso, no intuito de abrir o caminho de
uma salvação superior, manifestou-se a si mesmo, desde os primórdios, a nossos primeiros pais."
Convidou-os a uma comunhão íntima consigo mesmo, revestindo-os de uma graça e de uma
justiça resplandecentes.
55 Esta Revelação não foi interrompida pelo pecado de nossos primeiros pais. Deus, com
efeito, "após a queda destes, com a prometida redenção, alentou-os a esperar uma salvação e
velou permanentemente pelo gênero humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles que,
pela perseverança na prática do bem, procuram a salvação[fca12] ”
E quando pela desobediência perderam vossa amizade, não os abandonastes ao poder
da morte. (...) Oferecestes muitas vezes aliança aos homens e às mulheres.
A ALIANÇA COM NOÉ
56 Desfeita a unidade do gênero humano pelo pecado, Deus procura antes de tudo
salvar a humanidade passando por cada uma de suas partes. A Aliança com Noé depois do
dilúvio exprime o princípio da Economia divina para com as "nações", isto é, para com os homens
agrupados "segundo seus países, cada um segundo sua língua, e segundo seus clãs" (Gn 10.5)
57 Esta ordem ao mesmo tempo cósmica, social e religiosa da pluralidade das nações
destina-se a limitar o orgulho de uma humanidade decaída que unânime em sua perversidade,
gostaria de construir por si mesma sua unidade à maneira de Babel[fca17] . Contudo, devido ao
pecado, o politeísmo, assim como a idolatria da nação e de seu chefe, constitui uma contínua
ameaça de perversão pagã para essa Economia provisória.
58 A Aliança com Noé permanece em vigor durante todo o tempo das nações, até a
proclamação universal do Evangelho. A Bíblia venera algumas grandes figuras das "nações", tais
como "Abel, o justo", o rei-sacerdote Melquisedeque, figura de Cristo, ou os justos "Noé, Daniel e
Jó". Assim, a Escritura exprime que grau elevado de santidade podem atingir os que vivem
segundo a Aliança de Noé, na expectativa de que Cristo "congregue na unidade todos os filhos
de Deus dispersos" (Jo 11,52).
DEUS ELEGE ABRAÃO
59 Para congregar a humanidade dispersa, Deus elegeu Abrão, chamando-o "para fora
de seu país, de sua parentela e de sua casa" (Gn 12,1), para fazer dele "Abraão", isto é, "o pai de
uma multidão de nações" (Gn 17,5): "Em ti serão abençoadas todas as nações da terra" (Gn
12,3).
60 O povo originado de Abraão será o depositário da promessa feita aos patriarcas, o
povo da eleição, chamado a preparar o congraçamento, um dia, de todos os filhos de Deus na
unidade da Igreja; será a raiz sobre a qual serão enxertados os pagãos tornados crentes.
61 Os patriarcas e os profetas, bem como outras personalidades do Antigo Testamento,
foram e serão sempre venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja.
DEUS FORMA SEU POVO ISRAEL
62 Depois dos patriarcas, Deus formou Israel como seu povo, salvando-o da escravidão
do Egito. Fez com ele a Aliança do Sinal e deu-lhe, por intermédio de Moisés, a sua Lei, para que
o reconhecesse e o servisse como o único Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e juiz justo, e
para que esperasse o Salvador prometido.
63 Israel é o Povo sacerdotal de Deus, aquele que "traz o Nome do Senhor" (Dt 28,10). É o
povo daqueles "aos quais Deus falou em primeiro lugar", o povo dos "irmãos mais velhos" da fé de
Abraão.
64 Por meio dos profetas, Deus forma seu povo na esperança da salvação, na
expectativa de uma Aliança nova e eterna destinada a todos os homens, e que será impressa
nos corações. Os profetas anunciam uma redenção radical do Povo de Deus, a purificação de
todas as suas infidelidades, uma salvação que incluirá todas as nações. Serão sobretudo os
pobres e os humildes do Senhor os portadores desta esperança. As mulheres santas como Sara,
Rebeca, Raquel, Míriam, Débora, Ana, Judite e Ester mantiveram viva a esperança da salvação
de Israel. Delas todas, a figura mais pura é a de Maria.
III. CRISTO JESUS "MEDIADOR E PLENITUDE DE TODA A REVELAÇÃO"
DEUS TUDO DISSE NO SEU VERBO
65 "Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos pais pelos profetas; agora,
nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho" (Hb 1,1-2). Cristo, o Filho de Deus feito
homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. Nele o Pai disse tudo, e não há outra
palavra senão esta. São João da Cruz, depois de tantos outros, exprime isto de maneira luminosa,
comentando Hb 1,1-2:
Porque em dar-nos, como nos deu, seu Filho, que é sua Palavra única (e outra não há),
tudo nos falou de uma só vez nessa única Palavra, e nada mais tem a falar, (...) pois o que antes
falava por partes aos profetas agora nos revelou inteiramente, dando-nos o Tudo que é seu Filho.
Se atualmente, portanto, alguém quisesse interrogar a Deus, pedindo-lhe alguma visão ou
revelação, não só cairia numa insensatez, mas ofenderia muito a Deus por não dirigir os olhares
unicamente para Cristo sem querer outra coisa ou novidade alguma.
NÃO HAVERÁ OUTRA REVELAÇÃO
66 "A Economia cristã, portanto, como aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não
há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso
Senhor Jesus Cristo". Todavia, embora a Revelação esteja terminada, não está explicitada por
completo; caberá à fé cristã captar gradualmente todo o seu alcance ao longo dos séculos.
67 No decurso dos séculos houve revelações denominadas "privadas", e algumas delas
têm sido reconhecidas pela autoridade da Igreja. Elas não pertencem, contudo, ao depósito da
fé. A função delas não é "melhorar" ou "completar" a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a
viver dela com mais plenitude em determinada época da história. Guiado pelo Magistério da
Igreja, o senso dos fiéis sabe discernir e acolher o que nessas revelações constitui um apelo
autêntico de Cristo ou de seus santos à Igreja.
A fé cristã não pode aceitar "revelações" que pretendam ultrapassar ou corrigir a
Revelação da qual Cristo é a perfeição. Este é o caso de certas religiões não-cristãs e também
de certas seitas recentes que se fundamentam em tais "revelações”.
RESUMINDO
68 Por amor, Deus revelou-se e doou-se ao homem. Traz assim uma resposta definitiva e
superabundante às questões que o homem se faz acerca do sentido e do objetivo de sua vida.
69 Deus revelou-se ao homem, comunicando-lhe gradualmente seu próprio Mistério por
meio de ações e de palavras.
70 Para além do testemunho que Deus dá de si mesmo nas coisas criadas, ele manifestouse
pessoalmente aos nossos primeiros pais. Falou-lhes e, depois da queda, prometeu-lhes a
salvação e ofereceu-lhes sua aliança.
71 Deus fez com Noé uma aliança eterna entre Ele e todos os seres vivos[fca51] . Esta há
de durar enquanto durar o mundo.
72 Deus escolheu Abraão e fez uma aliança com ele e sua descendência. Daí formou seu
povo, ao qual revelou sua lei por intermédio de Moisés. Pelos profetas preparou este povo a
acolher a salvação destinada à humanidade inteira.
73 Deus revelou-se plenamente enviando seu próprio Filho, no qual estabeleceu sua
Aliança para sempre. O Filho é a Palavra definitiva do Pai, de sorte que depois dele não haverá
outra Revelação.

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