sexta-feira, 10 de abril de 2009

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA II

O HOMEM É "CAPAZ” DE DEUS
O DESEJO DE DEUS
O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por
Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de
encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar:
O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à
comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa
com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor,
não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer
livremente este amor e se entregar ao seu Criador.
28 Em sua história, e até os dias de hoje, os homens têm expressado de múltiplas maneiras
sua busca de Deus por meio de suas crenças e de seus comportamentos religiosos (orações,
sacrifícios, cultos, meditações etc.). Apesar das ambigüidades que podem comportar, estas
formas de expressão são tão universais que o homem pode ser chamado de um ser religioso:
De um só (homem), Deus fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da
terra, fixando os tempos anteriormente determinados e os limites de seu hábitat. Tudo isto para
que procurassem a divindade e, mesmo se às apalpadelas, se esforçassem por encontrá-la,
embora Ele não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos (At
17,23-28).
29 Mas esta "união íntima e vital com Deus" pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada
explicitamente pelo homem. Tais atitudes podem ter origens muito diversas: a revolta contra o
mal no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosas, as preocupações com as coisas do
mundo e com as riquezas, o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento hostis à
religião, e finalmente essa atitude do homem pecador que, por medo, se esconde diante de
Deus e foge diante de seu chamado.
30 "Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor!" (Sl 105,3). Se o homem pode
esquecer ou rejeitar a Deus, este, de sua parte, não cessa de chamar todo homem a procurá-lo,
para que viva e encontre a felicidade. Mas esta busca exige do homem todo o esforço de sua
inteligência, a retidão de sua vontade, "um coração reto", e também o testemunho dos outros,
que o ensinam a procurar a Deus.
Vós sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor: grande é o vosso poder, e a vossa
sabedoria não tem medida. E o homem, pequena parcela de vossa criação, pretende louvarvos,
precisamente o homem que, revestido de sua condição mortal, traz em si o testemunho de
seu pecado e de que resistis aos soberbos. A despeito de tudo, o homem, pequena parcela de
vossa criação, quer louvar-vos. Vós mesmo o incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas
delícias no vosso louvor, porque nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto
não repousar em vós.
II. AS VIAS DE ACESSO AO CONHECIMENTO DE DEUS
31 Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar a Deus, o homem que
procura a Deus descobre certas "vias" para aceder ao conhecimento de Deus. Chamamo-las
também de "provas da existência de Deus", não no sentido das provas que as ciências naturais
buscam, mas no sentido de "argumentos convergentes e convincentes" que permitem chegar a
verdadeiras certezas.
Estas "vias" para chegar a Deus têm como ponto de partida a criação: o mundo material e
a pessoa humana.
32 O mundo: a partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza
do mundo, pode-se conhecer a Deus como origem e fim do universo.
São Paulo afirma a respeito dos pagãos: "O que se pode conhecer de Deus é manifesto
entre eles, pois Deus lho revelou. Sua realidade invisível - seu eterno poder e sua divindade -
tornou-se inteligível desde a criação do mundo através das criaturas" (Rm 1,19-20).
E Santo Agostinho: "Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a
beleza do ar que se dilata e se difunde, interroga a beleza do céu... interroga todas estas
realidades. Todas elas te respondem: olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino de louvor
(confessio). Essas belezas sujeitas à mudança, quem as fez senão o Belo (Pulcher, pronuncie
"púlquer"), não sujeito à mudança?"
33 O homem: Com sua abertura à verdade e à beleza, com seu senso do bem moral, com
sua liberdade e a voz de sua consciência, com sua aspiração ao infinito e à felicidade, o homem
se interroga sobre a existência de Deus. Mediante tudo isso percebe sinais de sua alma espiritual.
Como "semente de eternidade que leva dentro de si, irredutível à só matéria" sua alma não pode
ter origem senão em Deus.
34 O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmo nem seu princípio primeiro
nem seu fim último, mas que participam do Ser em si, que é sem origem e sem fim. Assim por estas
diversas "vias", o homem pode aceder ao conhecimento da existência de uma realidade que é
a causa primeira e o fim último de tudo, "e que todos chamam Deus"
35 As faculdades do homem o tomam capaz de conhecer a existência de um Deus
pessoal. Mas, para que o homem possa entrar em sua intimidade, Deus quis revelar-se ao homem
e dar-lhe a graça de poder acolher esta revelação na fé. Contudo, as provas da existência de
Deus podem dispor à fé e ajudar a ver que a fé não se opõe à razão humana.
III. O CONHECIMENTO DE DEUS SEGUNDO A IGREJA
36 "A santa Igreja, nossa mãe, sustenta e ensina que Deus, princípio e fim de todas as
coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas
criadas”. Sem esta capacidade, o homem não poderia acolher a revelação de Deus. O homem
tem esta capacidade por ser criado "à imagem de Deus[fca20] ”.
37 Todavia, nas condições históricas em que se encontra, o homem enfrenta muitas
dificuldades para conhecer a Deus apenas com a luz de sua razão:
"Pois, embora a razão humana, absolutamente falando, possa chegar com suas forças e
lume naturais ao conhecimento verdadeiro e certo de um Deus pessoal, que governa e protege
o mundo com sua Providência, bem como chegar ao conhecimento da lei natural impressa pelo
Criador em nossas almas, de fato, muitos são os obstáculos que impedem a mesma razão de
usar eficazmente e com resultado desta sua capacidade natural.
As verdades que se referem a Deus e às relações entre os homens e Deus são verdades
que transcendem completamente a ordem das coisas sensíveis e quando estas verdades
atingem a vida prática e a regem, requerem sacrifício e abnegação. A inteligência humana, na
aquisição destas verdades, encontra dificuldades tanto por parte dos sentidos e da imaginação
como por parte das más inclinações, provenientes do pecado original. Donde vemos que os
homens em tais questões, facilmente procuram persuadir-se de que seja falso ou ao menos
duvidoso aquilo que não desejam que seja verdadeiro"
38 Por isso, O homem tem necessidade de ser iluminado pela revelação de Deus, não
somente sobre o que ultrapassa seu entendimento, mas também sobre "as verdades religiosas e
morais que, de per si, não são inacessíveis à razão, a fim de que estas no estado atual do gênero
humano possam ser conhecidas por todos sem dificuldade, com uma certeza firme e sem mistura
de erro”
IV. COMO FALAR DE DEUS?
39 Ao defender a capacidade da razão humana de conhecer a Deus, a Igreja exprime
sua confiança na possibilidade de falar de Deus a todos os homens e com todos os homens. Esta
convicção esta na base de seu diálogo com as outras religiões, com a filosofia e com as
ciências, como também com Os não-crentes e os ateus.
40 Uma vez que nosso conhecimento de Deus é limitado, também limitada é nossa
linguagem sobre Deus. Só podemos falar de Deus a partir das criaturas e segundo nosso modo
humano limitado de conhecer e de pensar.
41 As criaturas, todas elas, trazem em si certa semelhança com Deus, muito
particularmente o homem criado à imagem e a semelhança de Deus. Por isso as múltiplas
perfeições das criaturas (sua verdade, bondade e beleza) refletem a perfeição infinita de Deus.
Em razão disso podemos falar de Deus a partir das perfeições de suas criaturas, "pois a grandeza
e a beleza das criaturas fazem, por analogia, contemplar seu Autor" (Sb 13,5).
42 Deus transcende a toda criatura. Por isso, é preciso incessantemente purificar nossa
linguagem daquilo que possui de limitado, de proveniente de pura imaginação, de imperfeito,
para não confundirmos o Deus "inefável, incompreensível, invisível, inatingível” com as nossas
representações humanas. Nossas palavras humanas permanecem sempre aquém do Mistério de
Deus.
43 Assim falando de Deus, nossa linguagem se exprime, sem dúvida, de maneira humana,
mas ela atinge realmente O próprio Deus, ainda que sem poder exprimi-lo em sua infinita
simplicidade. Com efeito, é preciso lembrar que "entre o Criador e a criatura não se pode notar
uma semelhança, sem que se deva notar entre eles uma ainda maior dessemelhança”, e que
"não podemos apreender de Deus o que ele é, mas apenas O que ele não é e de que maneira
os outros seres se situam em relação a ele.
RESUMINDO
44 O homem é, por natureza e por vocação, um ser religioso. Porque provém de Deus e
para Ele caminha, o homem só vive uma vida plenamente humana se viver livremente sua
relação com Deus.
45 O homem é feito para viver em comunhão com Deus, no qual encontra sua felicidade:
"Quando eu estiver inteiramente em Vós, nunca mais haverá dor e provação; repleta de Vós por
inteiro, minha vida será verdadeira"
46 Quando escuta a mensagem das criaturas e a voz de sua consciência, o homem pode
atingir a certeza da existência de Deus, causa e fim de tudo.
47 A Igreja ensina que o Deus único e verdadeiro, nosso Criador e Senhor, pode ser
conhecido com certeza por meio de suas obras graças à luz natural da razão humana.
48 Podemos realmente falar de Deus partindo das múltiplas perfeições das criaturas,
semelhanças do Deus infinitamente perfeito, ainda que nossa linguagem limitada não esgote seu
mistério.
49 "Sem o Criador, a criatura se esvai”. Eis por que os crentes sabem que são impelidos
pelo amor de Cristo a levar a luz do Deus vivo àqueles que o desconhecem ou o recusam.

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