quinta-feira, 30 de julho de 2009



É fácil indignar-se e atacar o bispo e os médicos. Cada um tem a sua consciência e cada qual vê a vida e a morte dos outros como acha que deve. Algum juiz entendeu que no caso de estupro pode-se matar os dois fetos indesejados. Autorizou o aborto para salvar uma infeliz menina de 9 anos estuprada pelo padrasto bestializado. Por 6 a 5 os juízes do Supremo Tribunal determinaram que se pode matar um embrião para fins maiores. O presidente da república, Lula Inácio da Silva, que se proclama católico, achou certo distribuir camisinhas na avenida do sambódromo e classificou de menos atualizado o bispo que condenou os católicos que mataram. Abortar é matar! Que não digam que não sentimos nada pela menina torturada pelo padrasto tarado. O perdoador Jesus, mais do que excomungar, até manda jogar ao mar quem faz isso ( Mt 18,6). Simbolismo ou não, estupro é questão de vida e morte. Mas a questão vai mais longe. Houve dois fetos mortos nessa história. Se não podemos viver sem o sentimento e sem a compaixão, não podemos também viver sem a razão. Teologia Moral não é Teologia Pragmática. Não é porque nosso sentimento nos diz que é preciso salvar a infeliz menina torturada por um tarado que, por conseguinte, é correto extrair os dois indesejados fetos. Quem faz isso, na verdade o faz por acreditar que é certo salvar a mãe-menina de um fardo cruel e que também é certo eliminar intencionalmente do ventre e do futuro duas vidas que ainda não vemos, ainda não amamos e que talvez não se desenvolvam. Não é decisão moral: é pragmática. É o certo pelo incerto e não o correto. Correto é não eliminar um nascituro, ainda que isso traga sofrimentos terríveis pra a mãe. Incapaz de entender e decidir, decidiram para ela. Infelizmente é o que pensam muitos católicos e muitas outras igrejas. Outras haverá que aceitam o aborto porque pregam teologia pragmática, não dogmática nem moral. Cedem ao clamor do sentimento popular. Acontece que o sentimento popular, ainda que da maioria, nem sempre é correto. Linchamento ou pena de morte aos quinze anos pode ser clamor geral, mas não é correto. Não é porque a maioria quis Perón ou Fidel, ou quer Chaves que tudo o que eles fizeram passou a ser correto. A maioria pode até ter o poder constitucional de decidir determinada matéria, mas não tem o poder de decidir se algo é certo ou errado. Nem por decreto de 6 bilhões de humanos 2+20 resultará em 30. A verdade se oporá aos eleitores. A Igreja não é nem nunca será amada por sua defesa incondicional da vida a partir do primeiro instante da concepção. No papel é bonito e até romântico, mas virá o dia em que alguém talvez precise escolher entre matar um ou dois para que um terceiro sobreviva. Naquele dia se verá se ele é católico ou não. Ou aceitará ou declarará guerra à sua igreja que, até então, resolvia seus problemas. Entre o que ele não vê e o que ele vê, provavelmente matará o que não vê. Dirá que um feto ainda não nasceu, por isso pode morrer. A mãe dele já nasceu e por isso precisa ser salva, porque entre a vítima-mãe e a vítima feto, salve-se a mãe. É aí que muitos casais começam a brigar com a Igreja. Os fetos tornam-se Ijucá-Pirama: devem morrer. A entrevista do presidente da republica foi clara. Foi pragmático. Ele acha que os médicos fizeram certo e o bispo errou. No julgamento dele era certo tirar a vida dos dois fetos e salvar a da menina. Como nós votamos nele para presidente e não para juiz podemos e devemos discordar da sua sentença. É popular, mas admite a morte de dois seres humanos em gestação. Então como fica? Nós, católicos que achamos que não se pode matar dois fetos, mesmo que sua mãe menina tenha sido estuprada, somos todos trogloditas e sem alma e vamos contra lei de Deus? Quem extrai os fetos acerta e faz o que Deus quer? E Deus? Onde entra ele nesta tristíssima história? Vai punir ou não vai? Porque não agiu antes? A briga com a igreja vira briga com o Deus que ela anuncia. Mas as perguntas prosseguem, polêmicas de lá e de cá. Extrair um feto é ou não é matar? E Deus deixa? No Brasil povoado de igrejas e templos, às vezes dez na mesma rua, segundo opinião dos juízes, do atual presidente e de alguns médicos pode-se matar duas vidas de alguns meses para se salvar uma outra de nove anos. Foi o que aconteceu. Compaixão para com a infeliz menina e nenhuma compaixão para os fetos sem rosto. Não parecendo criança, perante a lei não é criança?Moro num pais onde é permitido negar vida para um humano que ainda não nasceu, mas que já existe, e extraí-lo em função de um ser humano que já nasceu e por isso tem mais direitos. Feto só passa a ter direitos de criança quando solta o primeiro vagido. Dentro da mãe ele ainda não tem direito à vida. Assim funciona a lei pró-aborto em muitos países. Luta-se por isto aqui também. A essa atitude chamam de progresso. E quem acha que não se pode abortar um feto é visto como ultrapassado. Esparta e Atenas, Roma e Gengis Khan faziam isso! Então não é assim tão moderno. Por mais grave que seja o motivo, extrair dois fetos é matá-los. Entre a vida e o futuro da mãe-vítima e a vida dos filhos ainda fetos as autoridades permitiram a morte dos fetos. Não tinham culpa, mas eram indesejáveis. O bispo excomungou quem fez o aborto. Criticam o modo como o fez. Mas a mídia só deu alguns detalhes. Não sabemos as instâncias que elo percorreu até tomar a decisão que tomou. A sociedade absolveu quem extraiu os fetos e excomungou o bispo que os defendeu. O governo e boa parte do povo fizeram uma escolha. Milhões de católicos fizeram outra. É mais um episódio da guerra dos embriões. Matar um feto não é mais pecado. Não o é para grande parte da mídia, da opinião publicas e de algumas igrejas. No Brasil suga-se para fora do ventre e da vida mais de 1 milhão de fetos por ano. No mundo, mais de 50 milhões. Para muitos, nada disso é visto como pecado. Não consideram o feto como um ser humano. Voltamos a ser uma civilização de morte que mata para resolver problemas pessoais ou populacionais. E nós católicos somos tachados de insensíveis, dogmáticos, não pragmáticos e ditatoriais porque não olhamos o lado da vítima. E vem a segunda acusação da mídia: o bispo nem sequer excomungou o estuprador... Aí, um outro X da questão. A Bíblia deixa claro o quanto Jesus abominava pecados como este. (Mt 18,6) Jesus que veio para que todos tenham vida! (Jo 10,10) Nós achamos que eles tinham consciência errônea. Eles acham que os errados somos nós. Deus sabe quem matou e quem tentou salvar!

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